Audiência Pública debate os desafios da inclusão de pessoas com deficiência
Especialistas apontam falhas e soluções nas políticas públicas de inclusão em Osasco
A Audiência Pública com o tema “Os desafios da Inclusão para a Pessoa com Deficiência”, solicitada pelo vereador Batista Comunidade (Avante), realizada na noite de quinta-feira (12), no Plenário Tiradentes, reuniu especialistas da área que apontaram a necessidade de políticas públicas mais inclusivas, equitativas e de qualidade.
Em três horas de debate, profissionais da área da saúde, da educação, pais e mães falaram sobre a falta de adaptações razoáveis, necessárias para a inclusão das pessoas com deficiências e das crianças com Transtorno do Espectro Autista – TEA. Aproveitaram para sugerir soluções como a Inter setorização da saúde e políticas públicas que integrem todos os aspectos do desenvolvimento do ser, evitando as segmentações.
Sabrina Spineli, mãe de um autista de 22 anos e ativista na luta pelos direitos das pessoas com deficiência e TEA, parabenizou a iniciativa da Câmara em promover a audiência. “Políticas públicas de inclusão são feitas para o desenvolvimento humano e quanto mais pessoas envolvidas, melhor o IDH do município e esse é o caminho certo”. Em sua fala, Sabrina relatou a jornada como mãe, as dificuldades e como ainda faltam políticas públicas mais qualitativas, equitativas, inclusivas e integradas.
“O que as pessoas com deficiência precisam é de diagnóstico precoce, tratamento precoce e individualizado, tratamento continuado, e não seis meses de tratamento e volta para casa”, disse a mãe.
Especialista em direito de pessoas com deficiência e pai de uma criança autista, Dr. Sidmar Pall acredita que o poder público deve atuar incansavelmente na busca pela “igualização dos desiguais”. “Política pública é uma luta incansável nos direitos das pessoas com deficiência. Não queremos perder tempo, queremos que Osasco se torne modelo”.
Pall também defendeu a necessidade de atendimento aos familiares. “Muitas vezes precisamos de acompanhamento, de atendimento. Sentimo-nos sozinhos nessa luta, é muito difícil”, comentou, ao solicitar políticas públicas que integrem a família.
A neuropediatra Alessandra Russo abordou questões técnicas sobre diagnóstico, precocidade e intensidade de tratamento. “A função do diagnóstico é saber o que fazer”. Segundo ela, a precocidade do tratamento independe do diagnóstico. “O tempo que perdemos esperando um nome é muito precioso”. Assim como Pall, ela ressaltou a importância do trabalho da saúde e da educação com a família.
Fala de mães
Vanessa Dalapria fez um relato emocionado das dificuldades encontradas para que o filho tivesse oportunidades e aprendesse. Sugeriu uniformização das condutas nas escolas e a quebra de barreiras existentes. “Se a escola cumprisse seu papel com apoio Inter setorial de outras secretarias e, se as funções fossem bem estruturadas, poderíamos cumprir com habilidade a proposta da escola, que é nossos filhos aprenderem”.
Já Raquel Dias, assistente social, falou sobre dificuldades encontradas na área da saúde. “As crianças com deficiência precisam de atendimento especializado. Vivemos à margem das políticas públicas. Temos profissionais com dificuldades de diagnosticar, enfrentamos uma espera desesperadora”, afirmou.
A nutricionista Luciene Assaf relatou o medo das mães. “Vocês não sabem o que é acordar de madrugada para ver se seu filho está vivo”. Ela apresentou números que retratam a deficiência das pessoas no país. “Quarenta milhões de brasileiros têm algum tipo de deficiência. Para cada 54 crianças, uma tem autismo. Cerca de 300 mil pessoas têm Síndrome de Down no Brasil”. Para Luciene, faltam políticas públicas mais sérias no país.
Avanços no Município
Mestre em políticas públicas e mãe de autista, a gerente de atendimento educacional da Secretaria de Educação, Érica Lemos, falou sobre o mundo real, mundo ideal e os desafios encontrados para incluir equitativamente deficientes e pessoas com TEA, além dos avanços nos trabalhos desenvolvidos dentro da Secretaria.
“Temos equoterapia, hidroterapia, ensino especializado. O processo de inclusão é complexo e difícil, precisamos da intersetorialidade. Em termos de consciência precisamos crescer muito também”, comentou Érica. Ainda de acordo com a profissional, 1241 crianças na rede pública de ensino em Osasco possuem algum tipo de deficiência, considerando aquelas que têm laudo.
O secretário-executivo da Pessoa com Deficiência, Salomão R. de Lira Júnior, defendeu os trabalhos da pasta. Ele lembrou os desafios enfrentados pelos seus pais, em uma época que não havia política de inclusão e faltava sensibilidade para discutir o assunto. “Não são heróis e muito menos coitadinhos, são seres humanos que têm sonhos, frustrações. Os desafios continuam, por uma questão cultural, a gente precisa fazer acontecer”, declarou.
Salomão destacou que a luta da pessoa com deficiência não depende de partido, mas está ligada à dignidade e à cidadania. O secretário sugeriu a realização de seminários e debates para aprofundar as discussões.
Para Batista Comunidade, autor do pedido da audiência, encontra voz na política desenvolvida pelo atual governo. “Estou muito confiante. Acredito que já estamos evoluindo nessa questão, hoje temos um governo mais dedicado a esse assunto. As ações estão andando, lentas, mas estamos criando”.
Ex-secretária de Educação e Assistência Social, a vereadora Ana Paula Rossi recordou as primeiras vezes em que ouviu o debate sobre deficiência. “Tenho um sentimento de frustração enquanto agente público. Em 2003 participei de uma reunião com mães de crianças, que na época eram chamadas de crianças especiais, e vejo que hoje estamos discutindo praticamente a mesma coisa”.
Ana Paula acredita que a criação da Secretaria Executiva da Pessoa com Deficiência é um importante passo para a concretização dos avanços.
A Audiência Pública também contou com as presenças dos vereadores Josias da Juco (PSD), que preside a Comissão Do Idoso, do Aposentado, do Pensionista e das Pessoas com Deficiência, Cristiane Celegato (REP), Rogério Santos (PL), do co-vereador do mandato coletivo do PSOL, HIgor Andrade, e dos secretários municipais José Carlos Vido e Mônica Veloso.