Sessão da Câmara de Osasco reafirma papel do povo preto em Osasco

Foto: Ricardo Migliorini / CMO

Solenidade celebrou Semana da Cultura Negra, com homenagens a 20 personalidades

Uma grande festa repleta de cores, memórias, dança, música, emoção e, sobretudo, reflexões sobre o papel do povo preto no Brasil. Assim foi a Sessão Solene em comemoração à Semana da Cultura Negra, realizada na Câmara de Osasco na noite da última sexta-feira (18).

Marcada por forte presença do público, de movimentos de defesa da cultura negra e de ativistas sociais, a solenidade foi a primeira após a sanção da Lei 5.146/2021, que criou em Osasco o feriado do Dia da Consciência Negra.

O encontro foi proposto pelo vereador Emerson Osasco (Rede), que é também o autor da lei que instituiu o feriado da Consciência Negra na cidade. Emerson presidiu os trabalhos da noite e a vereadora Juliana da AtivOz (PSOL) secretariou a Mesa dos Trabalhos.

Também compuseram a Mesa o secretário-executivo da Pessoa com Deficiência, Salomão Júnior, e o vereador de Carapicuíba e ativista da causa negra, Bruno Marino (PT).

“Para mim é uma gratidão e uma felicidade enorme ver esse ‘aquilombamento’. Para mim, essa é a verdadeira composição representativa do povo brasileiro: homens, mulheres negras e brancos antirracistas”, disse Emerson Osasco.

Ele celebrou a união do povo preto no encontro, que trouxe depoimentos fortes sobre opressão, preconceito e libertação. “Não foram poucos momentos que a gente viu que a arma estava apontada para a gente pela cor da nossa pele. Muitos, antes de mim, deram o sangue, a vida para que, hoje, eu pudesse estar aqui falando e pudéssemos estar aqui reunidos”, justificou.

Homenagens

O vereador fez a entrega de certificados em homenagem a 20 personalidades negras e pessoas ligadas ao movimento negro. Cada convidado falou sobre a relação com a luta por direitos, com depoimentos impactantes.

“Um dia vão contar a história desse tempo sombrio que a gente tem passado. Teve pessoas que se levantaram e foram à luta”, disse o integrante do grupo de rap Liberdade e Revolução e diretor executivo da CBRB da Confederação Brasileira de Breaking (CBRB), Francisco das Chagas Vidal.

Bruno Marino falou sobre a felicidade de poder reunir tantas pessoas em um evento público, para o mesmo fim. “São pessoas lutadoras, que não deixam a nossa causa morrer”, disse o vereador, que luta pela implantação de cotas raciais em Carapicuíba desde o início do mandato.

Membro da Mandata AtivOz e eleita deputada estadual pelo Coletivo das Pretas (PSOL), Karina Correia abordou a realidade dos pretos da periferia. “O carro da polícia que os policiais usavam tinha o apelido de navio negreiro. Não é novidade, para nós, que a polícia mata preto e some com os corpos”, recordou.

Dentre os homenageados, quatro lideranças religiosas passaram visões de mundo complementares sobre os desafios vividos dentro dos templos e terreiros. Os padres José Enes de Jesus e Luiz Fernando Oliveira contaram a experiência vivida na Pastoral Afro da Igreja Católica. “Temos o dever de fazer com que esses homens e mulheres que morreram por nós tenham seus nomes guardados na memória”.

O pastor da Igreja Betesda de Osasco, Laércio Amorim, leu um documento reafirmando o compromisso da igreja com o povo marginalizado em função da cor, tribo e etnia. “A gente precisa se unir para erguer a voz contra o racismo. Não basta ser apenas não racista. É preciso ser antirracista”, declarou.

Representante do ativista José da Lapa Oliveira Santos, que atua na luta contra a discriminação religiosa e o racismo, Maria Célia falou sobre a importância de as novas gerações continuarem a luta. “Agradeço a Deus todos os dias por ter muitos jovens negros que lutam contra o racismo. Cada dia mais aqueles que estão vivos estão lutando pela sua cor”.

Memória preservada

O jornalista, escritor, professor, ator e intelectual Ricardo Aparecido Dias falou sobre a importância da preservação da memória da cultura negra.

Dias é um dos poucos remanescentes daqueles que pleitearam a criação da Semana da Cultura Negra em Osasco, em 1985. “Precisamos que a luta daqueles que nos antecederam esteja documentada”, defendeu.

Ele relatou um fato pouco estudado na cultura osasquense. Segundo ele, em 2023 completarão 200 anos que Maria Angélica, uma mulher negra e ex-escrava, se tornou proprietária do sítio onde Raposo Tavares, “um dos mais sanguinários bandeirantes de que se teve notícia no Brasil”. “É preciso estudar a respeito de Maria Angélica”, defendeu.

Confira a lista de todos os homenageados: Alexandra Pontieri, Bruno Marinho, Carlos Eduardo Cândido, Dandara Silva, Flávio Henrique Ribeiro Guilherme, Francisco das Chagas Vidal, José da Lapa Oliveira Santos, José Vitalino (Zé do Coco), Juliana da AtivOz, Karina Correia, Laércio Amorim, Luciana Nunes de Oliveira Machado, Luciano Marcelino Camargo, Maria Bernardete Raimundo, Mônica Aurélia Bonfim, padre José Enes de Jesus, padre Luiz Fernando Oliveira, Paulo Rogério de Oliveira, Ricardo Dias, Robinson Benedito dos Santos e Salomão Júnior.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.