Mulheres com deficiência falam sem tabu sobre a beleza de seus corpos
O que é beleza pra você? Essa pergunta não tem uma resposta pronta. Ainda bem! Afinal, somos diversos e o belo não tem padrões. Isso quem nos ensina são três mulheres com deficiência que valorizam seus corpos únicos e empoderados.
Lindas do nosso jeito
A modelo e atleta de vôlei sentado pela SDPD (Secretaria dos Direitos da Pessoa com Deficiência), Gilmara Aparecida Soares de Oliveira, de 33 anos, em 8 de março de 2008 sofreu um acidente e teve sua perna amputada. Apesar de sofrer preconceitos no dia a dia, conta sobre o poder da sua autoestima.
“Ouvi frases como: ‘tão linda, como pode ter deficiência?’. Esse tipo de fala prova que a deficiência está no preconceito das pessoas”, relata. Ela comenta não ser mais refém de padrões. “Antes do acidente, sentia essa cobrança do padrão magra e alta. Agora, não. Hoje tem diversidade”.
Gilmara se orgulha da sua prótese. “Amo minha perna rosa. É minha marca de empoderamento. Ser bela é amar cada cicatriz e forma, exatamente do jeito que é. Não é a deficiência que nos impede de sermos lindas e independentes”, ressalta.
Recomeço
A manicure Marília da Costa, de 49 anos, recebe apoio da SDPD. Ela foi vítima de violência doméstica aos 22 anos. “Ao terminar, ele me pediu desculpas, me deu um beijo, um abraço e depois um tiro nas costas. Perdi os movimentos das pernas”, lembra.
“Tive cicatrizes e demorei 13 anos para voltar a me relacionar com alguém de novo por ter vergonha do meu corpo. Apesar de tudo, acho que encarei bem. Superei isso e gosto de me cuidar e estar bem-vestida”, diz.
Marília relata o apoio recebido de outras mulheres. “As minhas amigas compraram um kit de manicure, conseguiram local e comecei a fazer unhas. Agora sonho em ter meu próprio espaço”.
Marília, além de chamar atenção pela sua elegância, também brinca ao se considerar, em muitos casos, a psicóloga de suas clientes. “Nunca usei minha história como exemplo, mas digo pra se valorizarem. Ter beleza é estar bem consigo mesma”. E dá o alerta: “pra enfrentar a violência é preciso ser forte e jamais se abandonar”, afirma.
Sem culpa!
Geciane Martins da Silva, de 27 anos, tem tetraplegia e recebe suporte da SDPD, deficiência adquirida após sofrer uma das piores violências cometidas contra mulheres: “há quatro anos recebi uma facada durante uma tentativa de estupro”, conta.
Ela diz que chegou a sentir culpa. “Eu pensava: será que foi minha roupa? Deveria ter saído em outro horário? Mas hoje digo para as mulheres jamais pensarem que a culpa é delas. Nunca foi e nunca será a nossa culpa”.
A auxiliar administrativa, e mãe, afirma se sentir mais segura com o próprio corpo. “Tenho um filho de sete anos que precisa de mim, não poderia me abater. Cuido da minha aparência, sim! Beleza é um estado de espírito. Estou sempre com um sorriso no rosto para que enxerguem em mim luz e não a dor que sofri”, finaliza.