Acidentes com crianças e adolescentes em São Paulo crescem 11% em 2023, aponta levantamento da Aldeias Infantis SOS
Incidentes com quedas somam 10.224 casos, ou 57% do total, após aumento de 11% em relação a 2022
Um levantamento exclusivo realizado pela Aldeias Infantis SOS, organização global que lidera o maior movimento de cuidado do mundo, mostra que, em 2023, os acidentes envolvendo crianças e adolescentes no Estado de São Paulo cresceram 11% na comparação com o ano anterior. No total, foram registradas 17.965 internações causadas por lesões não intencionais, entre as faixas etárias de 0 a 14 anos, contra 16.202 registros em 2022.
O estudo, elaborado com dados do DataSUS, é desenvolvido pelo Instituto Bem Cuidar, programa de gestão de conhecimento da Aldeias Infantis SOS, que analisou oito categorias de causas de acidentes. Destas, sete apontaram crescimento nas hospitalizações, com destaque para intoxicação (+ 23%), sinistros de trânsito (+ 13%) e afogamento (+ 13%). As outras causas em alta, devidamente categorizadas, foram quedas (+ 11%), queimadura (+ 10%) e sufocação (+ 5%).
“O quadro desenhado pelo levantamento é desalentador. Chama a atenção o total de acidentes provocados por motivo de queda: foram 10.244 ocorrências, ou 57% de todos os casos registrados. O dado repete padrão observado no levantamento de 2022, quando as quedas também lideravam as hospitalizações de jovens no Estado paulista”, explica Erika Tonelli, especialista em Entornos Seguros e Protetores da Aldeias Infantis SOS.
As hospitalizações por conta de acidentes envolvendo queda representaram mais da metade do total de ocorrências em 2023, ou mais de quatro vezes a segunda principal causa de internações, os sinistros de trânsito, responsáveis por 12% dos registros totais. A terceira maior causa foi queimaduras, respondendo por 9% das ocorrências.
As crianças e adolescentes que mais sofreram hospitalizações por causa de acidentes, em 2023, tinham de 10 a 14 anos (6.036), e houve um crescimento de 10% nas ocorrências dessa faixa etária em relação a 2022. Por outro lado, o levantamento da Organização mostra que, no grupo de 5 a 9 anos, houve a maior variação no registro de acidentes – foram 6.187 novos casos de internações, ou um aumento de 13% em relação ao ano de 2022.
“O período que compreende os 5 aos 14 anos é de maior autonomia e circulação pelos espaços comunitários e, na população que apresenta maior vulnerabilidade social, meninos e meninas dessa faixa etária são, muitas vezes, responsáveis pelo cuidado de irmãos e irmãs menores, fato este que os deixa mais propensos a acidentes. Deve-se atentar à necessidade de campanhas de conscientização da população sobre medidas de prevenção de acidentes também nessas faixas etárias”, destaca a especialista.
Ainda houve um aumento nos acidentes com crianças de 1 a 4 anos, um total de 4.584 casos (+10%), e também com menores de um ano, que somaram 1.158 casos (+8%).
“Nos casos de sufocação ou engasgo, a hipótese é que, durante a fase de aleitamento e da introdução alimentar, o uso de telas nas horas das refeições ou realização da alimentação em movimento não permita a correta mastigação. É importante destacar a necessidade de conhecimentos de primeiros socorros pelos cuidadores, educadores e familiares, além das medidas de prevenção de acidentes”, finaliza Erika.
Mortes por acidentes
Entre 2021 e 2022, o levantamento observou um crescimento de 10% no número de mortes de crianças e adolescentes causadas por acidentes, passando de 445 para 488. Repetindo o padrão do ano anterior, o maior número de óbitos se deu entre menores de um ano (40%). Também, a exemplo de 2021, a principal causa de mortes em 2022 foi sufocação, responsável por 230 casos (47%), que tiveram um salto de 31% em relação ao ano anterior.
Brasil
No Brasil, o levantamento da Aldeias Infantis SOS mostra que os acidentes de crianças e adolescentes cresceram quase 8% na comparação com o ano anterior, sendo o maior número desde 2019, período pré-pandemia. Em 2023, foram 119.245 internações causadas por lesões não intencionais, entre as faixas etárias de 0 a 14 anos, contra 109.988 registros em 2022.
Segundo cálculo da Organização, a cada hora, cerca de 13 crianças são internadas por lesões não intencionais, sendo que 90% dos acidentes poderiam ser evitados por meio de ações simples de prevenção e cuidado qualificado.
No que se refere a óbitos, entre 2021 e 2022, o levantamento observou uma queda de 1% no número de mortes de crianças e adolescentes causadas por acidentes, passando de 3.275 para 3.237. O maior número de óbitos se deu entre crianças de 1 a 4 anos (31%). A principal causa foi sufocação, responsável por 986 casos, sendo que, desse total, 765 (77%) envolveram menores de 1 ano.
Ainda de acordo com a Aldeias Infantis SOS, os dados indicam que nove crianças morrem todos os dias por causas de acidentes que poderiam ser evitados em 90% dos casos.
Sobre o Instituto Bem Cuidar
O Instituto Bem Cuidar (IBC) é um programa das Aldeias Infantis SOS responsável pela gestão de conhecimento e que tem o compromisso realizar consultorias, assessorias, diagnósticos e pesquisas, para a própria organização ou ainda atender demandas de conselhos, governos ou empresas.
O instituto promove a proteção e o cuidado de qualidade à infância e juventude por meio da produção, promoção e distribuição de conteúdo digital educativo, além de favorecer a troca de experiências, o aprimoramento e a difusão de boas práticas de cuidado de crianças e adolescentes, por meio de ações formativas, sistematização e produção de conteúdo.
Além disso, o Instituto Bem Cuidar dissemina práticas de prevenção de acidentes por meio do Projeto Criança Segura, que apresenta anualmente, entre outros resultados, as estatísticas sobre os principais fatores que levam a internação de crianças e adolescentes.
Sobre a Aldeias Infantis SOS
A Aldeias Infantis SOS (SOS Children’s Villages) é uma organização global, de incidência local, que atua no cuidado e proteção de crianças, adolescentes, jovens e suas famílias. A Organização lidera o maior movimento de cuidado do mundo e atua junto a meninos e meninas que perderam o cuidado parental ou estão em risco de perdê-lo, além de desenvolver ações humanitárias.
Fundada na Áustria, em 1949, está presente em mais de 130 países. No Brasil, atua há 57 anos e mantém mais de 80 projetos, em cerca de 30 localidades de Norte ao Sul do país. Ao trabalhar junto com famílias em risco de se separar e fornecer cuidados alternativos para crianças e jovens que perderam o cuidado parental, a Aldeias Infantis SOS luta para que nenhuma criança cresça sozinha.