A corrida eleitoral para a Prefeitura de São Paulo: empate triplo
Rodrigo Augusto Prando, professor de Ciência Política da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM)
A última pesquisa Quaest, divulgada em 30 de julho, apresentou um triplo empate técnico: o prefeito Ricardo Nunes (MDB), José Luiz Datena (PSDB) e Guilherme Boulos (PSOL). Vejamos.
A pesquisa traz os seguintes números: Nunes tem 20% (tinha 22% na pesquisa anterior); Datena, 19% (tinha 17%); Boulos com 19% (tinha 21%); Pablo Marçal (PRTB) apresenta 12% (tinha 10%); e Tabata Amaral (PSB) tem 5% (tinha 6%).
A pior notícia, como se pode depreender dos números, é para Nunes, que é o atual prefeito, tem a máquina nas suas mãos e perdeu 2 pontos percentuais em relação à pesquisa anterior. Boulos, por sua vez, também perdeu 2 pontos. E, no caso, a melhor notícia é para Datena, que ganhou 2 pontos, assim como Marçal, mas que não se encontra no campo de empate técnico. Desta forma, há, aqui, no momento, um tríplice empate técnico – dentro da margem de erro da pesquisa – entre Nunes, Datena e Boulos.
Parece, portanto, que Datena conseguiu mexer no quadro eleitoral, já que tudo indicava uma continuidade da polarização entre Nunes (MDB), apoiado por Bolsonaro, contra Boulos (PSOL), apoiado por Lula. O PSDB, que passou de protagonista da política nacional e no estado de São Paulo para um partido desarticulado e fragmentado, pode voltar e ter luz própria com Datena. Muitos – inclusive este escriba – não levavam a sério a possibilidade de Datena concorrer à eleição, pois já havia desistido de sua candidatura em quatro situações anteriores (duas municipais e duas para o Senado). Contudo, Datena, apresentador e jornalista, parece ter negociado com a emissora em que trabalha uma expressiva redução de seu salário no caso de derrota e de sua volta à televisão. Além disso, no evento que oficializou a sua candidatura, Datena enfrentou protestos em relação ao seu nome, especialmente, daqueles tucanos favoráveis ao apoio do atual prefeito Ricardo Nunes. Parece que era o que faltava para Datena, de fato, se assumir candidato: uma boa “briga” partidária. Outro aspecto é que Datena terá como vice o experiente tucano José Aníbal, além, obviamente, dos bons quadros que o PSDB possui em São Paulo, dado os anos que foram governo (seja na prefeitura ou no governo do estado).
Já há, inclusive, alguns que ventilam a possibilidade de uma desistência de Marçal para apoiar Datena, isso cairia como uma bomba nas candidaturas de Nunes e Boulos. Se, em novas rodadas de pesquisa, Datena se consolidar como capaz de ir para um segundo turno, contra Nunes ou Boulos, suas condições objetivas melhoram substancialmente. Talvez, ainda é cedo para cravar este fato, mas é possível que o nome de Datena reúna as condições de quebrar a polarização entre bolsonaristas e lulopetistas. Se Marçal tem força nas redes sociais; Datena, no caso, conhece a cidade de São Paulo e, na condição de apresentador, pode se sair muito bem no corpo a corpo com o eleitor, nos debates e nos programas produzidos para rádio e televisão. Os tucanos, com isso, podem, como dito, recuperar parte de seu prestígio com o retorno à prefeitura e, com isso, projetar novos voos.
Importante, doravante, acompanhar as pesquisas de outros institutos para verificar se esse triplo empate técnico se apresenta. E, não menos importante, é analisar como as campanhas de Nunes e Boulos vão reagir ao personagem Datena. As emoções, sempre presentes na vida política, prometem presença até o final dessa eleição municipal. Emoção e razão: dois elementos no bojo das escolhas eleitorais.
*O conteúdo dos artigos assinados não representa necessariamente a opinião do Mackenzie.
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