SOB A PELE — Os riscos dos procedimentos estéticos dos últimos tempos
Por Dra. Simone Neri – Médica, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia CRM 80.919
Nos últimos anos, temos assistido a uma verdadeira febre dos procedimentos estéticos. Redes sociais, filtros e influenciadores têm incentivado uma busca quase frenética pela “perfeição” — um rosto sem rugas, sem marcas, sem expressão. Mas por trás dessa busca existe um risco crescente: o da banalização e da perda da naturalidade.
Com três décadas dedicadas à dermatologia, acompanhei a evolução dos recursos estéticos, a chegada de novas tecnologias e o aprimoramento das técnicas que, quando bem indicadas, transformam não apenas a aparência, mas também a autoestima de forma saudável. Porém, junto com esse avanço, surgiram também os excessos — e eles têm custado caro.
Hoje, vemos rostos cada vez mais padronizados, com traços artificiais e expressões congeladas. O que antes era sinônimo de cuidado e rejuvenescimento, passou em muitos casos a representar uniformidade. A chamada “harmonização facial”, quando realizada sem critério técnico ou por pessoas sem a devida habilitação, tem resultado em distorções e complicações sérias, algumas irreversíveis.
Em minha prática clínica, recebo com frequência pacientes que chegam em busca de correção de procedimentos mal executados — trazendo não apenas sequelas físicas, como fibroses, assimetrias e inflamações, mas também danos emocionais profundos. Muitos relatam arrependimento, vergonha e perda da autoconfiança.
A estética deve ser um instrumento de valorização da identidade, e não de apagamento. Cada rosto carrega uma história, uma estrutura e uma expressão únicas. Por isso, procedimentos como toxina botulínica, preenchedores, bioestimuladores e fios de sustentação precisam ser realizados por profissionais habilitados, com conhecimento anatômico, senso estético e ética.
O papel do profissional é enxergar o paciente em sua totalidade — entender o que está por trás do desejo de mudar — e propor resultados que preservem harmonia, leveza e naturalidade. A beleza verdadeira não está em seguir padrões, mas em respeitar a singularidade de cada um.
Depois de tantos anos de experiência, reafirmo uma convicção: a estética mais moderna é a que não transforma rostos, mas resgata essências. Cuidar da pele é cuidar da história que ela carrega — com ciência, sensibilidade e responsabilidade.
