“Sou o cara que não pode falhar com o povo”, diz Rubens Furlan

Cauê Rigamonti

Rubens Furlan está em seu 5º mandato como prefeito de Barueri, e em 2020 completa 22 anos à frente da Prefeitura. Boa parte da história do desenvolvimento da cidade tem a sua marca, assim como a história política de toda a região – ele é praticamente o único político forte que restou dos últimos 20 anos. E é uma situação que o preocupa. “Se eu falhar é uma decepção tão amarga, tão grande, que o povo não merece”, avalia. Confira nesta entrevista ao jornal A Rua um pequeno resumo desta longa história de dedicação a Barueri, um balanço deste seu 5º mandato e como ele enxerga na região as eleições de 2020.

Jornal A Rua – Quais foram os momentos mais difíceis destes 20 anos como prefeito?
Rubens Furlan –
Governar uma cidade é muito difícil, porque muitas vezes num único ato é preciso conciliar todos os interesses, até para que se mantenha uma boa popularidade e a governabilidade. E em alguns momentos é muito difícil conseguir isto, criam-se até crises.

Houve algum momento específico que você possa dizer?
RF
– Na década de 80, por inexperiência, eu doei por decreto a Santana de Parnaíba um caminhão pipa, e para Itapevi paralelepípedos que havia tirado da rua Campos Sales, no Jardim Belval, que eu pavimentei. E a Câmara quis cassar o meu mandato. Foi muito difícil, eu havia perdido a maioria na Câmara. Quase que tive o mandato cassado. Foi uma coisa boba, eu só quis ajudar, e quase que acabei com minha carreira política ali.
Agora nós estamos passando um momento muito difícil. No ano que vem estou com R$ 100 milhões em requisitórios para pagar. Já foi aprovada no Congresso Nacional uma lei que tira de Barueri R$ 300 milhões de receita do ISS, em três anos, a cada ano R$ 100 milhões. De tudo o que estava planejado para o ano que vem, já entro com um buraco de R$ 200 milhões. Mas é minha obrigação, em vez de reclamar e lamentar, equacionar essa situação politicamente, e fazer com que o povo não sinta a falta desses recursos. Não vamos diminuir a qualidade dos serviços que estamos prestando. Acho que se isso acontecesse há 20 anos, eu não saberia o que fazer, mas hoje eu sei.

Quais são as diferenças da Barueri deste seu 5º mandato como prefeito?
RF – A população está hoje muito sofrida por conta do Brasil. Lá trás nós tínhamos um povo mais tranquilo. Na verdade, o povo sempre sofre, é uma luta permanente, mas não com tanta intensidade como agora. A política social hoje no Brasil é muito cruel para com o pobre, ela desemprega, enfraquece o orçamento familiar, não dá oportunidade aos jovens, tira a esperança das pessoas.
Neste meu 5º mandato não peguei uma cidade com situação confortável. Tive que pagar R$ 6 milhões de energia elétrica do Hospital que estavam atrasados há 6 anos. Mas recuperamos a cidade em 6 meses, e temos uma capacidade boa de investimento. Mas ainda assim – você dá uma boa qualidade de saúde, e como é que eu vou fechar a porta para outros municípios? Os moradores de Carapicuíba são brasileiros, somos todos brasileiros no mesmo barco procurando a mesma coisa. Onde tem uma saúde um pouco melhor, os moradores de outras cidades vêm. Vou fechar as portas? Não, vamos atender. A população de Barueri às vezes diz: e a gente aqui, vai entrar nessa mesma fila? Por isso estou procurando melhorar a qualidade da saúde na periferia, nas UBS e nos prontos-socorros, para que o pessoal possa ser atendido lá, e não venha disputar no Centro um atendimento com a população de Jandira, Carapicuíba, Osasco. Essa é a grande dificuldade.

Apesar da crise, o que faz ainda de Barueri este destaque nacional em arrecadação?
RF –
Temos um parque industrial bem moderno, e facilitamos muito a vida dos nossos contribuintes. Hoje em dia, toda vez que se fala em reforma tributária, pensam: “vamos tirar o ISS de Barueri”. É assim no Congresso, é famoso isso. Sabe como é reforma tributária? É como dividir melhor esse dinheiro, tudo o que se arrecada. Não é essa reforma tributária que o Brasil precisa. O Brasil precisa desonerar a produção, fazer com que mais gente pague os impostos, e pagando menos. Desonerando a produção, tornando nosso produto mais competitivo, porque daí as pessoas compram mais, e comprando mais fabrica mais, e se arrecada mais impostos.

Neste seu 5º mandato é notória a atenção especial ao setor da Saúde – é uma “obsessão” do Furlan neste mandato?
RF
– É, é uma obsessão. Acho que o poder público pode oferecer mais qualidade em saúde para o povo. Algumas cidades e estados, com ajuda ou não do governo federal, mas podem fazer, e não fazem por incompetência ou desorganização. Hoje tenho profissionais médicos maravilhosos, mas tenho médico que não está nem aí com nada. É preciso criar uma nova cultura, todos tem que estar empenhados, governo, profissionais. Estou tentando fazer com que Barueri seja de fato um exemplo que pode ser seguido não por Jandira, nem por Carapicuíba, porque é caro, mas pelo Governo do Estado.

Há novas demandas sociais geradas pelo crescimento de empreendimentos imobiliários na cidade. O Furlan pensa em usar mais o instrumento público da contrapartida junto às construtoras?
RF
– Não, porque a contrapartida é a mesma coisa que aumentar impostos, é complicar a vida de quem está empreendendo. O empresário vai fazer um prédio aqui em Barueri, é lógico, ele é iniciativa privada, ele vai atrás de lucro, e precisa ter lucro para construir outro e mais outro, para gerar emprego inclusive. O empresário tem que ter a motivação do lucro, e a Prefeitura vai tirar o lucro dele? Ele já paga o ISS da obra, na escritura paga 5% de ITBI, o que já é uma boa contribuição. A hora que conclui a obra, o imposto já é uma contrapartida. E depois, vai dividir entre os apartamentos, cada apartamento desse vai ter um carnê de IPTU. Então o que o Poder Público tem que fazer? Um esforço brutal para dar estrutura para que eles continuem investindo. Por que Barueri é uma das melhores cidades para investimento? Por causa disso.

A Prefeitura está indo além do comum em toda a região, e quer colocar Barueri também na rota da modernidade da Cultura e do Turismo, como a nova Praça das Artes. Como nasceu este projeto e o que esperar de fato dele?
RF
– Quando se faz um investimento dessa natureza, não é apenas aquele objetivo natural da obra. É um investimento que revitaliza toda o entorno, é uma região da cidade que começa a se desenvolver de uma outra forma. Nós tínhamos ali um ginásio de esporte usado mais para velório de gente popular, e um teatro que servia mais para fazer formatura ou outro evento, não servia para trazer uma grande peça. Não tinha acústica, não tinha equipamentos adequados. Então estavam lá dois “elefantões” com mais de 30 anos, e durante este tempo serviram muito bem à cidade à sua maneira.
Eu, particularmente, sempre estive correndo atrás de muitas coisas para a cidade, e fazia algo pela Cultura, mas não o que tinha que ser feito. Fiquei imaginando: é capaz de eu encerrar minha vida pública devendo para a Cultura. Porque ali não vai ser um simples teatro – por ali vão passar milhares de crianças e jovens nas escolas de todo tipo de atividade cultural. Além do teatro haverá as oficinas de arte.
O teatro estará no circuito das grandes peças, porque será o melhor teatro do estado de São Paulo, não tenha dúvida. E terá estacionamento para 400 carros. Nada fechado, é uma praça mesmo, com tudo monitorado. Um espetáculo!

Depois de muito tempo, Barueri passará a contar com radares de velocidade em algumas vias. O que fez a Prefeitura agora mudar de ideia quanto à fiscalização eletrônica de velocidade e em semáforos?
RF
– Em cinco pontos da cidade, morreram 20 pessoas em 2018, por causa da imprudência no trânsito. Por exemplo, como quem vem da avenida Alphaville chegando na alameda Purus, em frente ao Residencial 2: quem vem por ali chega a uma curva, e os ‘meninos’ que vêm da avenida Alphaville, de Santana de Parnaíba, vêm numa velocidade muito grande, principalmente se vê o farol aberto, aí vem enlouquecidamente e se perde na curva. Até a base da PM teve que colocar uma defensa, porque os jovens muitas vezes batiam naquela pedra que há ali e os carros subiam pelo canteiro; com a defensa, eles colidem e acabam batendo em quem está no farol esperando no cruzamento. Imagine, mães com filhos que ficam sempre o lado no banco de trás. Cansei de ver ali acidente com morte, e são jovens que morrem ali. Então, não estou querendo o dinheiro deles não, não quero dinheiro de multa não, eu só não quero que eles se matem ali ou que matem alguém. Agora, se quiserem colocar a minha vida em risco, que paguem a multa.

Natural que o Furlan seja candidato à reeleição. Caso prossiga ao seu 6º mandato, quais serão os principais projetos?
RF
– Eu trabalhei muito nos serviços, pretendo manter a qualidade dos serviços e quero investir mais infraestrutura, em projetos viários necessários para receber essa população que vai chegar, estou muito focado nisso. Não fizemos até agora na proporção que deveríamos, até por conta na crise no Brasil que impediu a vinda de mais empreendimentos.

Furlan já adiantou em algumas ocasiões que em 2020 não pretende se envolver em campanha eleitoral alguma que não a sua própria. Não vai nem dar alguns pitacos nas cidades vizinhas, dada inclusive sua experiência com eleições?
RF
– Acho que o Marcos Neves (Carapicuíba) tem uma eleição garantida, o Igor (Soares, Itapevi) tem uma eleição garantida, acho que eu tenho uma eleição garantida, o Rogério Franco vai muito bem em Cotia, e o Elvis (Cezar, de Santana de Parnaíba) ainda não apresentou o candidato dele… Na minha avaliação ele tinha que ter um nome já para que a população vá conhecendo, observando.

E em Osasco?
RF
– Existem duas lideranças que tem que ser respeitadas nessa disputa, Emidio e o Rogério Lins por conta da máquina, que historicamente tem 23% do eleitorado – e se o prefeito for bom ele bate 35%, 40%. É difícil alguém furar esse bloqueio, mas é possível. Se alguém furar esse bloqueio, numa segunda eleição que é o segundo turno, aí pode dar qualquer um dos dois.

Mas o universo político de Osasco conspira de forma diferente, não acha?
RF – Sabe por quê? Porque um povo sem líder é um povo com problema sério, é um corpo sem cabeça. Eu posso dizer isso com tranquilidade porque os meus líderes foram morrendo, Ulysses Guimarães, (Orestes) Quércia, Tancredo (Neves), (André Franco) Montoro. Chegou uma hora e me perguntei: ‘quem está me liderando?’. Isso já faz tempo, faz uns 20 anos que sinto a falta de um líder. É preciso fazer um líder, e um líder demora uma geração, são 25 anos. Em Barueri, se o Furlan morrer agora, como vai ser? É um investimento, o povo vai ter que pegar alguém e investir, vem a eleição e o povo vota, depois precisa ter o retorno do líder, do ‘cara’, e se tiver um bom retorno, ele souber catalisar os interesses da população, se ele souber pavimentar uma estrada gerando esperança, então o povo vai se agarrando e ele vai virando líder. Em Barueri eu sinto que o povo é apegado a mim. Há pesquisa espontânea que dá 59% (com o nome de Furlan), você sabe o que é isso? Eu fico feliz, lógico, lisonjeado, mas não sou vaidoso porque sei que isso é só responsabilidade. Eu sou o cara que não pode falhar com o povo, porque se eu falhar é uma decepção tão amarga, tão grande, que o povo não merece. Então, Osasco está neste estágio, o último líder de lá foi o Celso Giglio, que morreu. O Emidio lidera uma parcela que está com dificuldades até por conta dos problemas que a esquerda vem sofrendo.

Circula a informação de que o prefeito de Santana de Parnaíba Elvis Cezar, e seu pai, o deputado Marmo Cezar, do mesmo PSDB do Furlan, iriam apoiar em 2020 em Barueri um candidato de outro partido. Como um prefeito do PSDB pode apoiar a candidatura contra o PSDB na cidade vizinha?
RF
– Eles têm liberdade, às vezes é por afinidade, eles têm essa liberdade… Eu, por exemplo, não posso apoiar um candidato que não o Igor (Soares, do Podemos, prefeito de Itapevi), primeiro porque ele é um excelente prefeito, segundo porque ele é um jovem que está dando um resultado extraordinário, então ele tem que ter o meu apoio, senão estou indo contra tudo o que preguei na minha vida inteira. Não importa o partido que ele esteja. O Cezar (Marmo) está procurando o espaço dele, ele sabe que em outra eleição não terá o meu apoio, então o que ele pensa em fazer: apoiar alguém e formar aqui (uma base).

Como o Furlan tem visto o governo Bolsonaro sob a ótica política; e também sob a ótica das realizações?
RF
– Na política, ele é um imbecil. Nas realizações ele tem uma equipe econômica que eu gosto, liderada pelo Paulo Guedes. Eu acho que o governo dele vai se sair bem, vai melhorar a economia, porque o Paulo Guedes vai insistir muito nas reformas necessárias.

Furlan gostaria de deixar uma mensagem?
RF
– Foi um ano muito difícil para nosso povo, mas em primeiro lugar eu acredito muito em Deus, e acredito em parte dos homens que estão governando o Brasil. Tudo isso que aconteceu, prisão de político, exagero de juiz, exagero da imprensa, foi um choque absolutamente necessário para que o Brasil visse tudo o que pode acontecer. Espero que tudo isso que aconteceu seja uma grande lição para todos, para quem comanda, para quem é comandando, para quem escolhe, para quem é escolhido. E aí sim, diante desse quadro novo, o Brasil vai recomeçar devagarinho e vai retomar o desenvolvimento, vai conseguir abrir os caminhos que os brasileiros precisam para viver com esperança e felizes.

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