Barueri perde combatentes na pandemia e reforça necessidade de isolamento
“Ele já descansa na Sua glória e o que nos resta agora, Senhor, é chorar e sentir saudade do nosso amigo. Coloque, Deus, na Tua presença a vida de todos os servidores da saúde e de todos aqueles que estão na linha de frente.”
Com essa oração, amigos, familiares e colegas de trabalho despediram-se, na manhã de sábado (dia 9), de Jony Henrique Garcia, motorista de ambulância de Barueri, falecido no dia anterior aos 50 anos de idade.
Com os protocolos de segurança adotados por conta da pandemia do novo coronavírus, não há velórios e a despedida teve que ser simples e improvisada. Após o cortejo desde o Hospital Municipal, apenas uma parada na Praça da Saudade (Vila São Francisco), onde está localizado o Cemitério Municipal Álvaro Quinteiro Vieira, para orações e uma salva de palmas, antes de o carro funerário subir as alamedas para o sepultamento.
Os colegas já conheciam o procedimento desde o falecimento, no dia 2 de abril, do também motorista de ambulância Valdemir da Conceição Oliveira, que tinha 52 anos.
E o sábado, 9 de maio, terminaria ainda mais triste na cidade com a notícia das mortes de Frederico Sadocco Neto (classe distinta da Guarda Municipal) e Maria de Lourdes da Silva (técnica de enfermagem do Programa de Atendimento Domiciliar – PAD), ambos com 52 anos.
Atuando na linha de frente do combate à Covid-19, os profissionais de saúde, e também os de segurança, estão mais expostos ao contágio e arriscam suas vidas para cuidar do próximo.
Por estarem em ambientes hospitalares ou nas ruas, muitos acabam privados do próprio convívio familiar evitando abraços, afagos e beijos e até dormindo em veículos ou em outros cômodos. Tudo isso para não colocar os familiares em risco e em meio ao estresse emocional e à alta carga de trabalho.
Mais do que números, estatísticas ou dados, os que perderam a vida têm nome e história, têm família e amigos. São pais, mães, filhos, avôs, irmãos, e agora passam a figurar o memorial de heróis da cidade.
Estão no panteão barueriense:
Valdemir da Conceição Oliveira – motorista de ambulância, falecido em 2 de abril, aos 52 anos;
Katia Kohler – médica ginecologista na UBS do Engenho Novo, falecida em 12 de abril, aos 58 anos;
Paulo Sérgio Gonzales – médico clínico geral na UBS do Jardim Audir, falecido em 16 de abril, aos 60 anos;
José Gervásio Garcia Neto – técnico de enfermagem na UBS da Aldeia de Barueri, falecido em 24 de abril, aos 64 anos;
Givaldo Soares da Silva – enfermeiro no Pronto-Socorro Central, falecido em 4 de maio, aos 49 anos;
Jony Henrique Garcia – motorista de ambulância, falecido em 8 de maio, aos 50 anos;
Frederico Sadocco Neto – guarda municipal classe distinta, falecido em 9 de maio, aos 52 anos;
Maria de Lourdes da Silva – técnica de enfermagem do Programa de Atendimento Domiciliar – PAD, falecida em 9 de maio, aos 52 anos.
“Neste momento de tanto sofrimento, sentimo-nos impotentes para tomar qualquer atitude que minimize a dor dos familiares. São perdas irreparáveis. Estamos nos colocando à disposição dos familiares em tudo que entenderem que possamos contribuir. Recebam nossos profundos sentimentos de pesar, tristeza e solidariedade”, declarou emocionado o prefeito de Barueri, Rubens Furlan.
Fique em casa
Além de lamentar a perda de vidas humanas, o médico e secretário de Saúde de Barueri, Dionisio Alvarez Mateos Filho, mostrou preocupação com o avanço da pandemia na cidade e fez um apelo à população.
“Barueri tem uma grande infraestrutura em saúde, mas se todos forem infectados ao mesmo tempo não há estrutura que dê conta. Temos essas perdas e temos os profissionais que estão afastados, se tratando. Mais do que aplaudir da janela ou fazer homenagens nas redes sociais, é preciso ficar em casa. Quem puder fique em casa, não saia sem necessidade. Esta é a melhor maneira de contribuir com os profissionais de saúde e com você mesmo, para que lá na frente não lhe falte o atendimento adequado”, afirmou.
Até sábado (dia 9), Barueri já contabilizava 583 casos confirmados de coronavírus, outros 1.441 casos em investigação e 96 pacientes internados no HMB ou no Pronto-Atendimento do Jardim Paulista. Por outro lado, a média barueriense de isolamento social é uma das mais baixas entre os municípios paulistanos.
A cidade registrou na sexta-feira (dia 8) a sua menor taxa de isolamento de toda a quarentena: 41%. O índice é medido por meio da frequência dos telefones celulares. De acordo com as autoridades sanitárias, o ideal para frear a propagação do vírus é 70% e a meta é manter-se no mínimo acima dos 50%.
Quarentena renovada
Publicado no Jornal Oficial de Barueri de sábado (dia 9), o decreto municipal 9.139 prorrogou a quarentena na cidade até 31 de maio, em consonância com a legislação estadual.
Regina Mesquita, secretária de Segurança e Mobilidade Urbana de Barueri, lamentou a morte do CD Sadocco e reafirmou o compromisso da Guarda em fiscalizar e orientar a população sobre a quarentena.
“Sadocco dedicou 25 anos da sua vida ao enfrentamento à criminalidade pela Guarda Municipal, onde ingressou ainda na primeira turma. Sempre dedicado, de conduta exemplar e querido por toda a tropa, ele teve a vida abreviada por esse inimigo invisível. É nosso dever, em sua memória e pela nossa responsabilidade junto à sociedade, seguir combatendo”, salientou a secretária.