Mulheres falam sobre a grandiosa, porém difícil, jornada materna

Mãe é tudo igual? Claro que não! Existem vários tipos de mães, mas o amor incondicional e os medos fazem parte da vida de todas elas, sem distinção. Nessa reportagem especial para o Dia da Mães (celebrado amanhã, dia 8) você conhecerá mulheres que, nas suas diferenças, lutam todos os dias não para serem perfeitas, mas para serem mães ideais para seus filhos nessa difícil jornada.

Mãe que não se silencia
Sidnéia da Silva Malta Figueiredo, 44 anos, é mãe de Matheus, de 11 anos. Ela sofreu um grave acidente aos cinco anos de idade. Isso resultou na perda total de sua audição e gerou outras sequelas em sua vida social.

“Fui empregada doméstica e a minha patroa perguntava: ‘mas surdo sabe limpar e passar?’. Em outro emprego, quando percebiam que era surda, fugiam de mim, ninguém queria aprender Libras”, revela.

Mãe de um filho ouvinte, Sidnéia, que trabalha hoje em uma gráfica (emprego este conquistado por intermédio da Secretaria dos Direitos da Pessoa com Deficiência de Barueri – SDPD) e tenta conciliar com sua rotina e o dia a dia com seu filho, revela que sua capacidade foi questionada não apenas na carreira, mas também na decisão de ser mãe.

“Muitos falavam: ‘porque engravidou?’; ‘Você não pode ser mãe sendo surda’; ‘É difícil, é perigoso’; ‘Podem roubar a sua criança’, me diziam. Eu sempre ignorei todos os comentários maldosos, mas nunca me calei. Eu dizia: ‘só ouvinte tem o direito de ter um filho?’”, conta.

A sua luta por direitos iguais sempre a motivou, mas como toda mãe, ela revela que teve medo do que poderia vir. “Tive medo do futuro: será eu meu filho vai ser surdo? Ele vai continuar me amando? Será que ele vai sofrer com o fato ter uma mãe surda?”, lembra.

Sidnéia revela que os caminhos para se comunicar com Matheus também não foram nada fáceis. “Lembro dele pequenininho chorando porque não conseguia se expressar comigo. Eu ensinava sinais como mamãe, papai, família. Era difícil, mas nunca desisti de tentar. Cheguei a procurar uma fonoaudióloga e aprendi a oralizar algumas palavras. Isso me ajudou muito”.

Sidnéia relata a sua força de vontade para ocupar todos os espaços. Sempre fez questão de estar presente na vida do filho e reivindica mais respeito de todos, principalmente com relação às mães com deficiência.

“As pessoas precisam respeitar os surdos e todos deveriam aprender libras, ter empatia. Nós merecemos desfrutar das mesmas coisas que os ouvintes. Não é porque sou surda que não me conecto com meu filho, muito pelo contrário. Estamos ligados eternamente. O amor e o respeito nos fortalecem cada vez mais”, finaliza

A arte de ser mãe
A artista plástica Paula Portella, 40 anos, é mãe de Leonardo, de oito meses. Ela conta que teve uma gestação tensa por causa de uma diabetes gestacional. Diagnóstico este que a colocou no estágio de gravidez de risco.

“Medo era a palavra! Os riscos da diabetes gestacional rondavam minha mente, era preciso controlar alimentação e glicemia o tempo todo. Foi difícil, só quem passa por isso sabe”, confessa.

Paula tem uma carreira sólida no mundo das artes e lidera o Núcleo de Artes Visuais da Prefeitura de Barueri, é apaixonada pelo que faz. Voltou ao trabalho quando seu bebê tinha dois meses de vida. Uma escolha difícil, porém, teve muita segurança ao continuar com sua carreira.

“Muitas vezes a profissão de artista não é reconhecida. É preciso correr atrás de exposições e criar projetos. Mas nunca pensei em interromper minha carreira para ser mãe. Consegui trabalhar até o oitavo mês de gestação e retornei às atividades quando meu bebê estava com dois meses de vida, porém, o apoio é tudo! Eu tenho isso, mas fico imaginando aquelas mães que não conseguem ajuda. É muito difícil”, solidariza-se.

Paula lembra que um dos sentimentos que paira na arte de ser mãe é a culpa, que vem por conta da cobrança da sociedade.

“A única forma de combater essa culpa, que muitas mães sentem por conta dos julgamentos, é saber que estão fazendo o melhor que podem. Eu sou mãe que trabalha fora, não posso ficar o tempo todo com meu filho, mas o tempo que estamos juntos, faço valer”, conta a artista.

Ela defende a ideia de que mães merecem e precisam ser felizes. “Eu digo pra outras mães: força! Tente apoio, delegue funções, mas não sofra com altas expectativas. Cuide de sua mente, fique bem para poder cuidar do seu bebê, ele merece uma mãe feliz, mesmo cansada”, declara.

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Mãe que cuida de outras mães
Kelli de Lima Rigonati Rocha, 43 anos, é agente da Guarda Municipal de Barueri há 24 anos e mãe há 17, e comanda a Guardiã Maria da Penha de Barueri, programa que protege vítimas de violência doméstica.

A agente da Guarda Municipal, junto com sua equipe, realiza visitas periódicas às casas das mulheres que sofreram violência doméstica e conta que grande parte das vítimas são mães.

“Um grande desafio da minha carreira é lidar com as mulheres e seus filhos que sofrem as sequelas da violência vivida pelas mães. Por mais que realizamos todo o acolhimento, às vezes me sinto impotente. Gostaria de fazer muito mais por essas mães e suas crianças. O nosso trabalho no Guardiã não deixa de ser um trabalho social”, conta Kelli, que se depara com mães que vivem em extrema vulnerabilidade social.

“As mães da minha equipe acabam mobilizando forças, e as que têm filhos pequenos fazem doações de roupinhas para os filhos dessas mães que, em muitos casos, ficam sem renda porque eram sustentadas pelo agressor”, ressalta.

Kelli e sua equipe do Guardiã já ministraram palestras em escolas com o objetivo de orientar as crianças a identificarem casos de violência. “Nós orientamos quando e como pedir ajuda caso virem sinais de violência dentro de casa”, disse.

“Sou mãe de um adolescente e sempre que posso converso com ele sobre o meu trabalho e o quanto é importante falar da questão do respeito com as mulheres. Graças a deus ele é um rapaz muito consciente, sabe a importância de construirmos uma sociedade menos machista e que proteja as mulheres”, orgulha-se.

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