Paciente se reaproxima de familiares após 63 anos sem contato
Era para Francisco Victor Pereira, de 75 anos, até então em situação de rua, nunca mais ter encontrado a família. Distante dos parentes desde os 12 anos de idade (apesar de um breve contato em 2005), os laços pareciam ter sido definitivamente rompidos. Mas a persistência do Serviço Social do Hospital Municipal de Barueri (HMB) Dr. Francisco Moran fez com que Francisco encontrasse sua irmã, a advogada Alvanete Costa Pereira, que veio de Natal (RN) para reencontrá-lo depois de 63 anos.
Francisco deu entrada no HMB em fevereiro passado, vindo do serviço de acolhimento da Casa São Francisco de Assis, administrada pela Cáritas. Ele teve um acidente vascular cerebral (AVC) isquêmico que deixou sequelas. Além disso, também teve um quadro de trombose que obrigou a equipe médica a amputar uma de suas pernas.
Em tratamento até o dia 7 de maio, chegou o momento da alta e de encontrar algum parente para acolhê-lo e ajudá-lo na sua nova condição de vida. Desde o começo da internação, entrou em ação a persistência da assistente social Verônica Pereira de Lima Roque, sob a coordenação de Daniela Branco Nolasco, à frente de uma equipe de cinco profissionais do Serviço Social do HMB, e de ainda outras duas profissionais que atuam no Programa de Internação Domiciliar (PID).
O trabalho de busca
Primeiro, o Serviço Social tentou no início da internação uma busca pelos dados do Cartão Nacional de Saúde, sem sucesso. Posteriormente, tentou-se nova busca pelas informações do serviço de acolhimento da Casa São Francisco, de possíveis familiares que residiriam em Belo Horizonte (MG), ainda sem sucesso. Assim como também não deu resultado positivo informações do cartório de Poço Branco (RN), cidade natal do paciente.
A busca só começou a ter retorno mais alvissareiro pela boa vontade de uma cabeleireira moradora do bairro de Ponta Negra, em Natal, o mesmo onde mora Alvanete, a irmã de Francisco. Verônica descobriu que nesse bairro poderia haver algum parente de Francisco e arriscou contato por telefone com um comerciante local, escolhido aleatoriamente. Foi aí que a cabeleireira Joana Darc de Macedo Magalhães ouviu a história de Verônica e pelas informações obtidas foi pessoalmente até a residência de Alvanete.
“Primeiro foi minha sobrinha até a residência se certificar do local, depois fui eu e falei com dois rapazes e contei toda a história que a assistente social havia me dito”, lembra Joana. Na volta para o salão, Joana retornou a ligação para Verônica. “Cheguei, falei com ela e por mim, minha parte eu tinha concluído. Fiquei muito feliz, foi um sentimento que não tenho como explicar”, declara.
“Eu não estava em casa, mas meu neto a atendeu e pegou o telefone dela (Verônica). Quando cheguei, liguei e fiquei sabendo que meu irmão, que não sabíamos se estava morto ou vivo, tinha sido encontrado”, relata Alvanete.
Ela e o irmão Luiz vieram a Barueri buscar Francisco. “Eu e meus familiares deixamos aqui os nossos agradecimentos e reconhecimento pelo brilhante trabalho e atendimento prestados ao nosso irmão e a nós próprios nessa Unidade Hospitalar”, escreveu Alvanete em carta de agradecimento aos profissionais do HMB.
O reencontro com a família
Francisco é o irmão mais velho de outros cinco, filhos de Porcina, hoje com 99 anos e que foi de Recife (PE) a Natal para rever o filho. Alvanete conta que não se sabe o motivo de Francisco ter se afastado da família quando tinha apenas 12 anos. Em 2005, uma outra irmã, que hoje mora nos Estados Unidos, o encontrou e o levou para sua casa, em Belo Horizonte, mas depois de alguns dias, ele sumiu de novo, até ser reencontrado em Barueri.
A assistente social Verônica ressalta que diante de um caso como o de Francisco é fundamental ter persistência. “O olhar do profissional do Serviço Social precisa ser empático, assertivo e coerente com as normas legais por conta do perfil do paciente”. Segundo ela, “nem sempre as questões sociais são notadas de imediato, já que é preciso um olhar investigativo, trabalhando com hipóteses de atuação para, por fim, chegar à resolução do caso”.
Coincidência ou não, Joana Darc conta ainda que o esposo é corretor e que poucos dias antes do telefonema da assistente social estava negociando o aluguel de um imóvel com uma senhora. O negócio não foi fechado porque sua potencial cliente teve de fazer uma viagem de emergência a São Paulo.
Quando voltaram a se encontrar, Joana e o marido descobriram que a cliente era justamente Alvanete, a quem o destino reservou o reencontro de familiares e de vizinhos que não se conheciam.