Refugiados Afegãos Encontram Apoio e Esperança no Brasil com Ação Humanitária do Médicos do Mundo

A situação humanitária no Afeganistão se agravou drasticamente em 2021, com milhões de pessoas forçadas a deixar suas casas em busca de segurança. Estima-se que cerca de 3,25 milhões de afegãos tenham sido deslocados internamente e mais de 5,3 milhões tenham buscado refúgio em outros países. No Brasil, esse fluxo de refugiados também é significativo: entre janeiro de 2022 e julho de 2024, mais de 11 mil afegãos chegaram ao país, buscando proteção e uma oportunidade de recomeçar por meio do visto humanitário. Este visto permite a permanência legal e a integração social, mas os desafios enfrentados por essa população são muitos, principalmente no que diz respeito à violação dos direitos das mulheres e meninas, além das dificuldades emocionais e psicológicas geradas pela experiência de conflito e deslocamento.

No dia 2 de novembro de 2024, a ONG Médicos do Mundo, unidade de Osasco, a convite de Thiago Bariani, diretor técnico do Centro de Defesa do Direito da criança e do adolescente (CEDECA), promoveu uma importante ação humanitária, beneficiando refugiados de diversas nacionalidades em um abrigo localizado em Cotia, São Paulo. O local abriga 131 refugiados de países como Afeganistão, Líbano, Síria e Rússia, todos forçados a fugir de conflitos armados, perseguições e crises humanitárias. Neste abrigo, a vida começa a ganhar novos contornos por meio do apoio social e dos direitos conquistados com o visto humanitário, mas ainda existem muitas dificuldades a serem enfrentadas.

A ação do Médicos do Mundo visou oferecer cuidados médicos, psicológicos e de bem-estar para essas pessoas em situação de vulnerabilidade. Sob a liderança do pediatra Dr. Renato Bonin, a equipe da ONG contou com a colaboração de dezenas de voluntários de diversas áreas profissionais, incluindo medicina, odontologia, podologia, enfermagem, psicologia, fisioterapia e até estética, com serviços como corte de cabelo e manicure. A parceria com os Motoclubes Insanos e Lokas foi fundamental para a logística da ação.

Além de cuidados médicos essenciais, como atendimentos odontológicos, orientações de saúde bucal, tratamento dermatológico e ginecológico, os refugiados também puderam contar com momentos de lazer e apoio emocional. “Com essa ação, conseguimos não apenas cuidar da saúde física, mas também da autoestima e bem-estar dessas pessoas, que muitas vezes têm suas vidas transformadas por traumas e perdas significativas”, afirmou o Dr. Bonin.

A dermatologista Dra. Simone Neri, destacou o impacto do atendimento dermatológico, que pode parecer simples, mas é profundamente transformador. “A Dermatologia pode ser um agente transformador na vida de pessoas em situação de vulnerabilidade. Ao cuidar da aparência e da saúde da pele, damos a essas pessoas não apenas alívio físico, mas também emocional”, comentou a médica.

Os refugiados atendidos nesta ação estão em processo de adaptação ao Brasil após obterem o visto humanitário, que tem validade de 180 dias. Durante esse período, eles recebem apoio logístico para sua integração no país, incluindo a obtenção de documentos como CPF e carteira de trabalho, aulas de português e assistência jurídica. Esse processo de integração é complexo e exige tanto o apoio de organizações da sociedade civil quanto a implementação de políticas públicas eficazes, garantindo que esses indivíduos possam reconstruir suas vidas com dignidade. Vale ressaltar que, em seus países de origem, a maioria possui formação universitária e, ao chegarem ao Brasil, acabam assumindo empregos em serviços operacionais devido à barreira da língua, à dificuldade de comunicação e ao choque cultural.

A parceria entre o governo, o setor privado e organizações não governamentais como o Médicos do Mundo é crucial para que os refugiados tenham uma chance real de recomeço. Dra. Simone Neri ressaltou que “a colaboração entre o setor privado e as políticas públicas é essencial para criar uma sociedade mais justa e igualitária, proporcionando aos refugiados uma verdadeira reintegração social”.

Atualmente, muitos dos refugiados que chegaram ao Brasil têm um alto nível educacional, mas enfrentam dificuldades para encontrar trabalho compatível com suas qualificações. No abrigo de Cotia, uma parte da população está envolvida em atividades operacionais, enquanto outras tentam se reintegrar ao mercado de trabalho por meio de programas de capacitação e integração.

A ação do Médicos do Mundo é um exemplo claro de como o compromisso humanitário e a solidariedade podem transformar a realidade de quem mais precisa. A ONG reafirma seu compromisso de promover uma sociedade mais acolhedora, onde os refugiados ou moradores de rua possam reconstruir suas vidas, encontrar dignidade e, acima de tudo, um futuro melhor.

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