SUS inicia rastreamento inédito do câncer de colo do útero com teste de DNA-HPV
Exame molecular vai substituir gradualmente o Papanicolau e permite identificar a presença persistente do HPV, principal fator para a progressão da doença
O Ministério da Saúde iniciou na sexta-feira, 15, a implementação do teste de biologia molecular DNA-HPV no Sistema Único de Saúde (SUS). A tecnologia, desenvolvida integralmente no Brasil, representa um avanço no rastreamento organizado do câncer de colo do útero e será disponibilizada inicialmente em 12 estados.
O exame é capaz de identificar 14 genótipos do papilomavírus humano (HPV), detectando a presença do vírus no organismo mesmo em mulheres assintomáticas e antes do surgimento de lesões precursoras ou de tumores em estágio inicial. Com isso, amplia as chances de tratamento precoce e maior índice de cura.
A iniciativa faz parte do programa Agora Tem Especialistas, que tem entre suas prioridades a área de oncologia. O objetivo é reduzir o tempo de espera por atendimento especializado no SUS e garantir o acesso a métodos diagnósticos mais modernos e eficazes para a população feminina.
“Quase 100% dos casos da doença são causados pelo Papilomavírus Humano (HPV), um vírus com mais de 200 tipos, sendo os subtipos 16 e 18 responsáveis por 70% dos diagnósticos. Um dos maiores desafios é o fato de que quase 65% das pacientes só descobrem a doença em estágio avançado, reduzindo as chances de um tratamento eficaz”, explica Marcos Maia, médico ginecologista especialista em Ginecologia Oncológica.
Estudos indicam que o método pode reduzir em 46% os casos de câncer e em 51% a mortalidade, superando os índices de efetividade do exame citopatológico. O público-alvo são mulheres entre 25 e 64 anos, principalmente aquelas que nunca realizaram exames preventivos.
Além da alta eficácia na detecção e diagnóstico precoce, a testagem molecular permite ampliar o intervalo entre os exames. “Atualmente, o rastreamento é feito pelo exame Papanicolau, que deve ser realizado a cada três anos, e anualmente em casos de alteração. Com a nova tecnologia, a recomendação é de um exame a cada cinco anos, facilitando o acesso e promovendo maior adesão ao rastreamento”, explica o especialista.
Recomendada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) desde 2021, a testagem é considerada o padrão ouro para detecção do câncer de colo de útero e integra as estratégias para eliminação da doença como problema de saúde pública em 5 anos. A incorporação foi avaliada pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec), que considerou a tecnologia a mais precisa já ofertada no SUS.
Como fazer o teste molecular?
Pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) já podem realizar o novo exame de DNA-HPV nas Unidades Básicas de Saúde (UBS). O rastreamento é voltado a mulheres cisgênero, homens trans, pessoas não binárias, de gênero fluido e intersexuais com sistema reprodutivo feminino. Para ter acesso, basta agendar uma consulta ginecológica.
O Ministério da Saúde fornecerá kits e insumos, além de treinamento especializado às equipes do SUS. Os diagnósticos serão apoiados pelo Super Centro para Diagnóstico do Câncer, que usa telepatologia e inteligência digital para reduzir de 25 para cinco dias o tempo de emissão de laudos.
Uma das novidades é a possibilidade de autocoleta do material ginecológico, indicada especialmente para populações em situação de vulnerabilidade ou com resistência ao exame. O procedimento será ensinado por profissionais de saúde e a amostra poderá ser entregue na UBS.
Segundo o Ministério da Saúde, a implementação começa por um município em cada estado, sendo ampliada conforme a finalização da troca do método. A meta é que, até dezembro de 2026, o rastreio esteja presente na rede pública de todo o território nacional, beneficiando 7 milhões de mulheres de 25 a 64 anos por ano.
