Audiência Pública discute diagnóstico de transtornos de desenvolvimento infantil

Intervenção precoce em crianças e atenção intersetorial a gestantes podem ser agentes de facilitação para triagem e atendimento

Facilitar o diagnóstico do Transtorno de Espectro Autista (TEA) e outros transtornos de desenvolvimento. Essas são as vantagens da intervenção precoce em crianças e da atenção intersetorial a gestantes de alto risco e a mulheres no pós-parto – temas debatidos na noite desta segunda-feira (22), durante Audiência Pública promovida pela Câmara Municipal de Osasco.

Promovido em conjunto pelas comissões legislativa de Saúde e Assistência Social e da Criança, do Adolescente, da Juventude e da Mulher, por solicitação do vereador Batista Comunidade (Avante), o encontro trouxe a visão de especialistas em saúde pública como médicos, psicólogos e de mães atípicas, além de reforçar a necessidade da implantação de um Centro de Atendimento TEA no município.

O psicólogo e servidor da UBS da Vila Menck, Roberto Alves, detalhou o processo adotado pela equipe multidisciplinar da unidade, que envolve mães e responsáveis pelas crianças com problemas de desenvolvimento ainda não diagnosticados.

O método combina ferramentas indicadas pelo Ministério da Saúde, como o M-Chat e a Cartilha de Desenvolvimento da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), em que os pais respondem questões simples no formato checklist. O projeto também indica estímulos como colocar a criança de bruços e brincadeiras para interação. “Quando o documento chega para a equipe da UBS, (a criança) já vem rastreada e foi estimulada”, explicou.

Psicóloga do CAPS Osasco, Maíra Tomás Freire defendeu a importância de ações desde a concepção da criança até os dois anos de vida. “É uma intervenção muito mais ampla, considerando que uma criança que tem um cuidado de proteção, de afeto e de nutrição adequados tem um desenvolvimento pleno durante toda a sua vida”, afirmou.

Segundo Maíra, o investimento em prevenção e diagnóstico precoce traz redução dos custos em saúde e educação a longo prazo, além de melhorar a qualidade de vida das crianças com TEA e outras deficiências.

Experiência em Santos

A firetora da CREN – Clínica Escola do Autista, em Santos (SP), Tamires Silvério Figueiredo, contou como surgiu o primeiro equipamento público do Brasil 100% SUS e explicou como os trabalhos acontecem. “Temos um grupo técnico de trabalho intersetorial que se reúne mensalmente para discutir estratégias de aprimoramento das políticas públicas para pessoas com TEA”, relatou. Um dos procedimentos adotados é a facilitação do diagnóstico, por meio da aplicação do questionário M-Chat e demais metodologias de rastreio. A estratégia também compreende ensinar os pais a lidarem com a realidade do TEA, protocolos para enfrentamento de desafios visando à qualidade de vida.

Médica neurologista, Valquíria Monteiro Lopes Brandt falou sobre como ações voltadas aos estímulos sensoriais são fundamentais para o diagnóstico precoce, tratamento e acompanhamento. De acordo com a profissional, o mundo vive hoje uma nova realidade em relação ao TEA. “Um em cada 30 nascidos vivos está no espectro autista. A gente precisa melhorar muito a nossa intervenção, repensar as políticas públicas, ter intersetorialidade, treinamento parental”, pontuou.

Projeto para Osasco

O vereador Batista Comunidade relatou as primeiras experiências que teve com grupos de mães atípicas em busca de diagnóstico e tratamento. O parlamentar fez a interlocução com o Executivo em busca de atendimento.

Os encontros com o grupo resultaram no projeto para a construção de um centro de atendimento ao TEA no município. Batista levou o material ao Executivo e, segundo ele, houve boa aceitação. “Estou feliz, orgulhoso de estar aqui com vocês. Esse material que a gente desenvolveu, se tudo correr bem, vamos ter o melhor do Brasil.

Fundadora do movimento social Ativismo PCD Osasco e mãe atípica, Raquel Dias integra o grupo que criou o estudo. “Foi desenhado a muitas mãos. Pensamos em entregar para Osasco o que a população sonha como ideal. Estou bem emocionada, confesso, porque tem mais de 10 anos da minha vida aqui”, declarou.

Secretário de Assistência Social do município, José Carlos Vido disse que Osasco deu passos importantes na causa PCD, apesar das dificuldades. De acordo com ele, a criação de um Centro de Referência em Autismo faz parte do plano de governo do prefeito Gerson Pessoa (Podemos). “Não tenho dúvida de que vai cumprir seu compromisso”, afirmou.

Secretário da audiência, o vereador Alexandre Capriotti (PL) leu questionamentos do público. Elaine Uchôa, avó atípica, encaminhou um depoimento sobre inclusão. “Hoje é um dia de celebrar. A inclusão não é apenas uma palavra, mas um compromisso de respeitar e valorizar a singularidade de cada indivíduo”.

A munícipe Érica perguntou se já existe um local para a implantação do Centro TEA e se o programa de intervenção precoce da Vila Menck será implantado em outras UBSs. De acordo com Batista, o prefeito Gerson Pessoa definiu como local a antiga sede do Sesc. Em relação às intervenções, Batista disse que o objetivo é levar o modelo para as demais unidades.

Stephane Rossi (PL) e Alexandre Capriotti também usaram a Tribuna para defender o processo de intervenção precoce como facilitador do diagnóstico e de melhoria da qualidade de vida dos pacientes.

Presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (CMDCA), Gustavo Pegorari Ribeiro convidou os palestrantes a levarem o conteúdo para as entidades parceiras do órgão, a fim de disseminar as informações.

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