EUA fazem acordo bilionário para garantir vacinas contra Covid-19

Cauê Rigamonti

Os Estados Unidos anunciaram esta semana um acordo para a compra de 100 milhões de doses da vacina desenvolvida pela norte-americana Pfizer e a alemã Biontech, contra o coronavírus. Com investimento de U$S 1,95 bilhão (R$ 9,97 bi), o governo do presidente Donald Trump procura safar-se dos resultados negativos que a negação ao vírus causou na opinião pública norte-americana, revelados principalmente nas atuais pesquisas para as eleições presidenciais deste ano – que acontecem em novembro.
Atrás do democrata Joe Biden na corrida presidencial, Trump mudou completamente seu discurso em relação ao coronavírus nos EUA nos últimos dias. Pelo acordo com os laboratórios, a intenção do presidente é tentar ainda este ano aplicar a vacina na população americana, em mais uma tentativa de demonstrar que está enfrentando a pandemia. A Organização Mundial da Saúde (OMS), por outro lado, descarta uma vacina ainda este ano. A compra dos americanos junto à dupla de farmacêuticas representaria toda a capacidade inicial de produção dos laboratórios.
Além de agora recomendar o uso de máscaras de proteção no país, Trump também já havia anunciado investimento de mais U$S 1,2 bilhão junto à AstraZeneca, laboratório britânico que hoje desenvolve uma vacina, em etapa avançada, em parceria com a Universidade de Oxford – que também está realizando testes em brasileiros, por meio de convênio junto à Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Outros acordos americanos que chegam à cifra dos bilhões de dólares, visando a prioridade aos EUA no recebimento de doses da vacina, foram firmados com companhias como a Moderna, Johnson&Johnson e o laboratório Novavax.
Guerra Fria 2.0
Os investimentos nas pesquisas pela vacina também reforçam claramente o antagonismo político dos EUA em relação à China na política mundial – a chamada “Guerra Fria 2.0”, termo associado à disputa de poder entre americanos e soviéticos depois da Segunda Guerra Mundial. Pelo menos sete laboratórios chineses também estão desenvolvendo vacinas contra a Covid-19 – um deles, a biofarmacêutica Sinovac, já está na terceira fase de testagem em paulistas, por meio de convênio com o Instituto Butantan.
No mundo, são os EUA o país que mais foi atingido pela pandemia – são mais de 140 mil mortes e quase 4 milhões de infectados, e os números continuam aumentando.
Esta semana, em um de seus discursos, Trump disse que os EUA aceitariam parceria com China na produção de uma vacina com eficácia comprovada. A afirmação foi vista como uma tentativa de amenizar os efeitos de sua própria decisão em fechar o consulado chinês na cidade de Houston, no Texas. O ato seria por conta de uma suposta denúncia de que hackers chineses estariam tentando roubar dados sobre uma vacina para a Covid-19.
O próprio Trump, antes de parecer “render-se” a uma parceria com a China na vacina, já havia culpado o país asiático pela pandemia. Em meio às suas declarações no feriado americano de 4 de julho, ele citou que os EUA fabricam agora respiradores e “os melhores testes para detectar o novo coronavírus”. “Antes, tudo isso era feito no exterior e, particularmente, na China, de onde, ironicamente, este e outros vírus vieram”, disse o presidente. “Os segredos, truques e acobertamentos da China espalharam o vírus para todo o mundo, para 189 países. A China precisa ser totalmente responsabilizada.”

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