Em audiência pública, Emidio aponta que as consequências da equivocada volta às aulas ficarão na conta de Doria
Deputado criticou o afrouxamento das normas para restabelecimento de atividades comerciais
O deputado estadual Emidio de Souza e a deputada estadual Professora Bebel realizaram, na tarde desta segunda-feira (27), audiência pública para debater a proposta do Governo de São Paulo de retomar as aulas presenciais no dia 8 de setembro.
Realizado em ambiente virtual e transmitido pelas redes sociais, o evento reuniu especialistas, professores, representantes dos alunos e pais preocupados com a medida.
Em sua apresentação, o médico e consultor técnico da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) Hélio Bacha falou que considera “temerário” e “equivocado” o plano do governador João Doria para a volta às aulas. Segundo ele, manter o isolamento escolar é fundamental para evitar que os índices de contaminação e mortalidade por Covid-19 subam.
O infectologista citou o caso da Itália que, entre março e abril, foi o segundo epicentro da doença no mundo e, mesmo com a situação estável, ainda não retomou as aulas presenciais.
De acordo com Bacha, sem vacina e remédio, a retomada das aulas precisa ser muito bem planejada. “A situação não nos permite retornar”, afirmou, citando a necessidade de o governo dialogar com os professores e pensar em como ficará o fluxo de alunos no sistema de transporte público com as escolas funcionando.
Ao falar especificamente do anúncio feito por Doria, o infectologista considerou a medida “temerária”. “Até acenar uma abertura em setembro é uma sinalização equivocada, manda uma mensagem equivocada para o conjunto da sociedade”, afirmou.
Hélio Bacha falou que sem testagem em massa qualquer retomada é precoce. Sem mencionar nomes, ele ainda disse que “infelizmente os governantes optaram pela mentira”. “O saber médico, que sempre se baseou em ciência, agora tem que se basear em politicagem, em mentira”, criticou.
Em sua explanação, o deputado Emidio de Souza chamou atenção para a responsabilidade do governador durante a crise. “A decisão de um governante nessa pandemia pode definir a vida ou a morte de milhões de pessoas. Não podemos aceitar que as decisões que envolvem a vida de milhões de pessoas sejam tomadas sem o mínimo de debate”, frisou.
Ao comentar o novo afrouxamento das normas para restabelecimento de atividades comerciais, anunciado por Doria nesta segunda-feira, Emidio apontou que as consequências da equivocada volta às aulas ficarão na conta do governador. “Doria, você não pode abrir a educação de São Paulo agora, você não pode voltar as aulas agora. Vai ficar na sua conta as consequências disso. Não é hora. Nós não podemos arriscar. Estamos tratando de vidas humanas e ninguém pode brincar com isso”, ressaltou.
No final de sua fala, Emidio pediu mobilização em defesa da vida. “Precisamos cobrar do Governo do Estado que ele tenha decisão que resguarde o interesse e principalmente a vida das pessoas envolvidas na educação”, disse.
A presidente da Apeoesp e deputada estadual, Professora Bebel, também cobrou mobilização e ainda falou sobre a necessidade dos prédios escolares estarem adaptados para receber os alunos. Segundo ela, isso não se trata de um embate com o governo e sim da preocupação com a vida das pessoas que ali vão circular. “Não é questão de briga com o governo. É uma questão de condições. Não basta diminuir o número de alunos. A escola também precisa ser um espaço mais aberto, mais arejado”, disse.
A falta de estrutura na escolas também lembrada no debate. Representante dos alunos, o presidente da UPES (União Paulista dos Estudantes Secundaristas) Hector Batista destacou que o Governo de São Paulo precisa deixar claro como fornecerá equipamentos individuais de higiene para os alunos. “A gente precisa de soluções”, frisou. A presidente do Sinteps (Sindicato dos Trabalhadores do Centro Paula Souza), Silvia Elena, denunciou que o plano do Doria não levanta em conta problemas que as escolas enfrentavam antes da pandemia. “Protocolo existe, mas ele não funciona. Não existe verba para se higienizar as escolas”, criticou.