Projeto de estudante brasileiro sobre evasão escolar conquista vaga em maio feira de ciências internacional
A estudante Kamylla Gontijo de Melo desenvolveu um protocolo para que as escolas possam detectar previamente casos de evasão e adotar medidas para evitá-los.
Foi a partir de um projeto de monografia, feito em 2022 para a conclusão do curso na Escola Alef Peretz, unidade Paraisópolis, em São Paulo (SP), que a estudante Kamylla Gontijo de Melo (hoje na Faculdade de Educação da USP), desenvolveu um protocolo para evitar a evasão escolar. Seu projeto, que contrapõe a visão convencional das causas da evasão, foi um dos nove selecionados pela 21ª edição da Feira Brasileira de Ciências e Engenharia (FEBRACE) para participar da International Science and Engineering Fair (ISEF) – a maior feira de ciências e engenharia do mundo, que acontece nos Estados Unidos, de 14 e 19 de maio.
À época, Kamylla estudou como o conhecimento freireano se aplicava aos alunos de dois colégios, nos bairros do Campo Limpo e Paraisópolis, periferias da zona sul da capital paulista, aplicando um questionário sobre os fatores que levariam os alunos à evasão. Foram avaliados quatro critérios: capital econômico (condições financeiras para se deslocar à escola e se manter estudando), capital cultural (conhecimento necessário para o aluno compreender e se interessar pelas aulas), capital social (relações dos alunos entre eles e entre os professores em sala de aula) e capital saúde (problemas de saúde que comprometem a presença do estudante).
Os resultados foram expressivos no que diz respeito ao capital econômico, que contemplou mais de 45% das respostas, e no capital cultural, presente em torno de 54% das respostas. “Isso vai ao encontro do que Paulo Freire define como desumanização do ensino, na qual o aluno fica cada vez mais distante da escola e consequentemente do conhecimento que os professores tentam depositar nele como indivíduos passivos, que apenas absorvem conteúdo; e contrapõe o que a UNICEF diz em seu relatório sobre evasão escolar divulgado no ano passado, em que aponta que a maioria dos alunos que abandonam os estudos fazem isso por falta de interesse”, afirma a pesquisadora. Com base nesses dados e em orientações de documentos do Ministério da Educação, ela elaborou um protocolo para que as escolas possam antever o problema e poder intervir para evitá-lo.
O protocolo tem foco na prevenção, para detectar os alunos com propensão à evasão — ao contrário das políticas públicas atuais, que são focadas na reintrodução dos estudantes. Esse protocolo funciona como um questionário, que é aplicado ao aluno no momento em que ele se matricula em um novo ano letivo. “Verifiquei ainda um outro problema. Quando o aluno sai do ensino fundamental e vai para o ensino médio, momento em que ocorre mais evasões, a matrícula desse aluno é feita automaticamente. Por isso esses dados podem ser pouco assertivos”, complementa.