A luta contra a volta dos manicômios para o tratamento de doentes mentais

É graças a um movimento que já dura 34 anos que tem sido possível humanizar o tratamento de pessoas com transtornos psiquiátricos. Lugar de louco não é no hospício. É isso que defende o Movimento de Reforma Psiquiátrica no Brasil. Aliás, “louco” é uma palavra demasiadamente ofensiva para se referir àqueles que sofrem de distúrbios mentais. A melhor terapia para esse paciente é a convivência com a família e sua inclusão na sociedade, não o isolamento em manicômios, afirmam os especialistas no assunto.

O 18 de maio foi escolhido como Dia da Luta Antimanicomial, um marco para o movimento que se posiciona contra as técnicas de tratamento que isolam o paciente em hospitais psiquiátricos, muitas vezes submetido a tratamentos violentos, passando o resto da vida longe da família e dos conhecidos. A luta antimanicomial abriu espaço para uma nova forma de cuidar, dando origem aos CAPs (Centros de Atenção Psicossocial) e à RAPS (Rede De Atenção Psicossocial).

“O trabalho realizado pela equipe de saúde mental em Barueri é de suma importância para sustentarmos a autonomia dos indivíduos, o cuidado territorial, em liberdade, e para ampliarmos a rede de atenção psicossocial. Há um trabalho qualificado por meio do acolhimento, do acompanhamento contínuo e da atenção às urgências”, afirma Rita de Cássia Bittencourt Stella, diretora técnica de Saúde Mental.

Em Barueri, o Dia da Luta Antimanicomial será comemorada com a exposição “rExistir”, com trabalhos feitos por usuários atendidos nos CAPs do município durante a pandemia e também no período pré-pandêmico. A exposição estará aberta à visitação apenas para os usuários que forem ao serviço nos atendimentos agendados, seguindo todo o protocolo de segurança da Covid-19.

Também estão nos planos da equipe de profissionais à frente dos CAPs disponibilizar o registro dessa exposição nas redes sociais da Prefeitura de Barueri. Haverá ainda o lançamento da 1ª edição do Jornal do CAPS, com entrevistas e produções artísticas e literárias dos próprios usuários.

Hoje a Prefeitura de Barueri atende 688 pacientes com transtornos mentais nos três CAPS do município: o CAPS Álcool e outras Drogas (CAPS III AD), que atende pessoas dependentes do uso de álcool e drogas; o CAPS II Adulto – Estação, que acolhe pessoas com sofrimentos psíquicos; e o CAPS IJ – Trilha (Infantojuvenil), que atende crianças e adolescentes vítimas de transtornos severos e persistentes.

Eles oferecem atendimento a pessoas com transtornos mentais severos e graves. Antes da pandemia contava com oficinas e grupos terapêuticos, espaço de convivência, ações na comunidade, atendimento psiquiátrico e atendimentos específicos (psicologia, serviço social, terapia ocupacional e enfermagem).

Os CAPs em Barueri contam hoje com 30 profissionais dedicados, compondo equipe de apoio administrativo, além de enfermeiros, técnicos de enfermagem, psiquiatras, assistentes sociais, terapeutas ocupacionais, nutricionistas e psicólogos.

Isolamento na pandemia
A pandemia da Covid-19 trouxe outros desafios no atendimento aos pacientes com graves transtornos. É necessário lançar mão de novas estratégias de cuidado que priorizam o atendimento individual e à distância, o que nem sempre é possível, considerando a realidade social e as características psíquicas dos usuários, destaca a equipe técnica do CAPS II Estação.

Outra questão importante que ficou mais evidente nos últimos anos é lutar para evitar retrocessos no cuidado em saúde mental para que o tratamento ocorra de forma inclusiva, fortalecendo o protagonismo do sujeito. Para os especialistas, é fundamental que se repudie o surgimento de movimentos que pregam o retorno de internações e de tratamentos dos antigos manicômios psiquiátricos.

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